Photobucket - Video and Image Hosting palimpnoia livre expressao: Tere - Terezinha Sarmento PALIMPNOIA ARTE VERSO PROSA

Tere - Terezinha Sarmento

História

Sempre fui uma criança introspectiva. Gostava de música, de desenhar e de ler. Era boa aluna. Quando vinha com o boletim, meu pai me recompensava, dando-me de presente livros com carinhosas dedicatórias.
Na adolescência, escrevia prosas e poesias. Depois, com o casamento (cedo), a fa-culdade, o primeiro filho e as aulas, parei com a escrita.
Em 1993, entre escolas, voltei a escrever e achava que aquelas poesias poderiam ser musicadas. Era meu sonho.
Entre tantos músicos que apreciava, escolhi um: Djavan. Suas melodias me encan-tavam, sua versatilidade de ritmos fazia-me crer que ele seria o único capaz de musicar uma poesia minha, qualquer uma!
(Eu seguia sua carreira de perto, desde que o ouvi cantar “Alegre menina”, poema de Jorge Amado musicado por Dori Caymmi, na novela Gabriela. Eu ouvia a canção e não sabia quem cantava, mas a voz e aquele violão me deixavam curiosa. Comprei o disco – LP à época e li: “Alegre menina” voz e violão Djavan. Não o conhecia. Desde então, fiquei atenta, esperando novos trabalhos que logo apareceram com composições de sua autoria).
Desde então (aí, ele já era famoso – década de 90), passei a escrever-lhe cartas, às quais juntava algumas poesias.
Com a determinação de capricorniana, consegui o telefone e o endereço de seu es-critório no Rio de Janeiro, para onde mandava as cartas por Correio simples, depois por Sedex e, finalmente, por fax. Fiquei dois anos escrevendo sem obter uma resposta sequer.
Já estava trabalhando em outra escola (trabalhando muito!) e enviando as cartas. Eu queria uma resposta, mesmo que fosse não!
Um dia, ele veio fazer um show em Campinas e ficou hospedado em um hotel há quatro quadras da minha casa. Não tive dúvida! Imprimi outra carta, registrei-me no hotel e a entreguei em mãos.
Quando disse meu nome, ele (sem abrir o que lhe entregava) olhou-me surpreso e disse que sabia quem eu era, que havia lido todas as minhas cartas e faxes, deu-me uma desculpa qualquer para justificar o porquê de não haver musicado as poesias e elogiou mui-tíssimo minha escrita. Eu fiquei feliz com a explicação e disse-lhe que não também era res-posta. Fez questão de ficar com aquela carta que eu trazia “em mãos”, apesar do teor ser o mesmo das demais e, a partir de então, tornamo-nos amigos.
Após seus shows, o segurança ia buscar-me na platéia para conversar com o artista no camarim, trocávamos telefonemas e, a pedido dele, continuei a lhe enviar prosas e poe-sias, mas nunca recebi uma linha sequer dele. As respostas sempre vinham após shows ou por telefonemas.
Algum tempo depois, ele estava disposto a musicar duas poesias minhas, mas por motivo bobo, discutimos por telefone, eu mudei de endereço e não lhe passei o novo núme-ro do meu telefone e nem assisti a mais nenhum show seu. Isso já faz uns 10 anos ou mais.
Hoje, no ostracismo, após 3 ou 4 CDs sem sucesso, Djavan não compõe mais. Fez um remix de seus maiores sucessos e contratou um DJ para se incumbir do ritmo, que era o que havia de mais original em sua obra. Estragou tudo!
Essa é a história. A seguir, publico a carta que lhe entreguei em mãos.


CARTA A DJAVAN


(Em mãos - 12 de julho de 1995)


Em primeiro lugar, tenho que agradecê-lo pelos incontáveis momentos de beleza sonora que você, sem saber, me proporciona há anos com suas canções. Muito obrigada!
Tento entrar em contato com você desde julho de 1993, através de tele-fonemas, cartas e inúmeros faxes, para os quais nunca obtive resposta.
Sou uma séria admiradora do seu trabalho e sigo-o atenta e interessada-mente desde meados dos anos setenta.
Sempre apreciei tudo o que faz: suas magníficas interpretações, sua in-confundível e bela voz, suas versáteis composições de letras e músicas, seu estilo absolutamente “djavanístico” de se acompanhar ao violão e os arran-jos competentes e sensíveis que vestem com rara beleza as canções que compõe.
Acho que com a mesma intensidade de excelência com que você lida com a música, eu a aprecio e, trabalho seu é, para mim, sempre um presen-te de afeto.
Fico impressionada com sua versatilidade tanto de ritmos, quanto de le-tras. Você consegue fazer canções líricas com uma delicadeza e um senti-mento impressionantes sem, nem ao menos, resvalar na pieguice - e me a-tinge direto no espírito.
Sou doente pelas letras do Chico Buarque, mas fico de fora, observando extasiada as coisas perfeitas que ele escreve. Sou parada nas melodias or-questrais do Edu Lobo. Amo o doce Caetano e sua inteligência privilegia-da. Fico empolgada com a magnitude de João Bosco. Sou vidrada na genia-lidade de Gilberto Gil. Aprecio muitíssimo Francis Hime, adoro Ivan Lins e idolatro Tom Jobim, para citar apenas alguns.
Porém, com você é diferente. O que você faz entra na minha alma. Você toca numa delicadeza de sentimentos que há dentro de mim e de cuja exis-tência nem eu estava ciente. Percebi isso quando tomei conhecimento do seu trabalho há aproximadamente vinte anos.
Quero me fazer entender: não é sua pessoa, afinal, eu não o co-nheço e não faço a menor idéia de como você seja e do que pensa a respeito das coisas. Não sou uma fãzoca inconseqüente! Sou casada, mãe de dois fi-lhos, tenho uma carreira profissional da qual me orgulho - sou professora de Português e Inglês - e estou satisfeita com a vida que levo. O que me intriga é essa sintonia que tenho com o seu trabalho. Parece que o que você faz flui diretamente da sua mente para a minha.
Você começou pronto, não há o que evoluir. É claro que há sempre uma novidade a cada trabalho seu, mas tudo tem a já esperada e conhecida exce-lência que marca todas as suas obras.
Por serem suas letras tão geniais, é com a timidez que me caracteriza e muito constrangimento que lhe entrego algumas poesias de minha autoria para sua apreciação, se possível.
Ficar-lhe-ia muito grata, se recebesse um retorno seu nesse sentido.
Desde já agradeço-o muitíssimo pelo que puder fazer por mim e peço a Deus que ilumine, abençoe e conserve o dom com que o distinguiu para ser um artista tão completo e de tão preciosas qualidades.

Tere é escritora e publica seus textos no Blog Meus Escritos




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